É
difícil perceber o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da internet para
estabelecer com ela uma relação de dependência — como já se vê em parcela
preocupante dos jovens
Com
o título “Preciso de ajuda”, Carolina G. fez um desabafo aos integrantes da
comunidade Viciados em Internet Anônimos, a que pertence:
“Estou
muito dependente da web. Não consigo mais viver normalmente”. Essas frases dão
a dimensão do tormento provocado pela dependência da internet, um mal que
começa a ganhar relevo estatístico, sobretudo entre jovens de 15 a 29 anos.
Os
estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o
doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma
eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises
de abstinência quando está desconectado, e seu desempenho nas tarefas de
natureza intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim,
momentos de rara euforia, mas não percebe que vai, aos poucos, perdendo os elos
com o mundo real até se aprisionar num universo paralelo e completamente
virtual.
Não
é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e
produtivo da rede para estabelecer com ela uma relação doentia, porém, em todos
os casos, a internet era apenas útil ou divertida e foi ganhando um espaço
central, a ponto de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido.
Mudança
tão drástica se deu sem que os pais atentassem para a gravidade do que ocorria.
Para o psiquiatra Daniel Spritzer, “a internet faz parte do dia a dia dos
adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa fase da vida, por
isso a família raramente detecta o problema antes de ele ter fugido ao
controle”.
A
ciência, por sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença. De
saída, o tempo na internet aumenta até culminar, pasme-se, numa rotina de
catorze horas diárias, e as situações vividas na rede passam, então, a habitar
mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda
um ganho de peso relevante, resultado da troca de refeições por sanduíches –
que prescindem de talheres e liberam uma das mãos para o teclado.
Gradativamente, a vida social vai se extinguindo, como alerta a psicóloga Ceres
Araujo: “Se a pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um
sinal claro de que as coisas não vão bem”.
Com
a rede, afinal, descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à
produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades modernas,
não faz sentido se privar, portanto toda a questão gira em torno da dose ideal,
sobre a qual já existe um consenso acerca do razoável: até duas horas diárias,
no caso de crianças e adolescentes. Desse modo, reduz-se drasticamente a
possibilidade de que, no futuro, eles
enfrentem
o drama vivido hoje pelos jovens viciados.
(Silvia Rogar e
João Figueiredo, revista Veja, 24.03.2010. Adaptado)
A
partir da leitura do texto e de seu conhecimento do assunto, produza um texto
sobre o tema O jovem e a Internet.
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